Viva e deixe Viver

Sem título

O mundo se desmonta em mil pedaços, tudo porque ele vive e quer viver, mas uma herança bastarda o move de ponta a ponta na esperança inútil de encontrar um norte. Enquanto isso, animal estranho vai se esgueirando pelas brechas da normalidade.
A placa dizia: Só para os Raros
Ela por sua vez, protegida em sua redoma de vidro recua perante o avanço desajeitado. Ela recua e talvez não entenda exatamente o que faz, o que quer fazer, e talvez me entenda menos do que pensa.
Ter um legado, uma angustia latente impulsora, me fez perder um novo mundo uma vez, me fara perder outros novos.
Ele costumava dizer: Viva e deixe viver…mas tem dúvidas se no final é ele quem vai morder a isca do anzol.
Ela costumava dizer: Você é um problema
Talvez ele seja isso mesmo, na tentativa vazia de encontrar um novo lar, alguma estação onde possa parar e finalmente me libertar da angústia de ser inquieto, lúdico e errado.
Ele costumava chamar ela de medrosa, mas ele também tinha medo. Ele só não sabia a diferença entre língua e linguagem, e talvez nunca saiba.
Ela deu seu último beijo, e ele espera reencontrar, na ansia por viver, e por deixar viver, aquele beijo.
Ela é especial, ele só não soube como dizer…
Ele entendeu o abandono, sem subjetivismo, mas lamenta, lamenta muito porque ela viveu, mas não deixou viver.

Rádio Analógico

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Eu apenas sinto que perdi o trem na estação. Todos partiram e eu fiquei neste mundo analógico enquanto todos andam por aí em seus mundos digitais, cheio de cordas tensas e regras de conduta. Qual estação se desce para o mundo das pessoas desajustadas? É lá que devia estar, pessoas devem ser felizes por lá, e tenho certeza que nenhuma criança passa fome. Nenhum idoso é desrespeitado e ninguém banaliza o amor. É lá que quero estar, essa estação aqui só toca as mesmas músicas, o rádio deve tá com o botão do sintonizador quebrado…_não ria de mim, meu rádio é analógico

Diretor do meu próprio filme

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O mundo anda cheio de oportunidades para todos e o que eu pareço perder, se assemelha ao que todos parecem ganhar. Sei que no final, cada um é protagonista do próprio drama, mas se estou exagerando nos fatos, é porque não consigo conviver com a angústia dos sentimentos sem nome, que são covardes e não se apresentam com seus cartões de visita. Não sei o que sinto, e receio não sentir absolutamente nada, pois o estado de letargia parece me assombrar. É como viver anestesiado, sem sentir dor alguma, e isso incomoda! Não quero ser a rainha do drama, nem o Rei das minhas convicções, mas desconfio que estou perdido.
Se por um lado, a vida profissional parece fluir bem, pelo outro lado sou o protagonista, diretor, coadjuvante de minha própria história pessoal. E estou preso nela, como se não pudesse cancelar o filme e voltar para casa, em busca de algum conforto. Quem escreveu o roteiro fui eu, quem contratou os personagens também, mas quero mudar, reinventar, porque não suporto olhar para a lista de pessoas que demiti de minha vida. Eu não quero assistir esse filme, e gostaria que ninguém visse.
No mundo da fotografia digital, me vejo perseguindo câmaras escuras em busca de negativos do passado. O que pretendo buscar no passado? “O dedo do destino escreve, e tendo escrito segue adiante. Nem toda sua devoção e engenho farão com que volte para cancelar meia linha sequer, nem todas as suas lágrimas apagarão uma só palavra.”

Sinceramente, não gosto de como me sinto e embora esteja me contradizendo, não quero absolutamente descobrir o nome para tudo isso. Na verdade, eu não sei o que quero, e receio que esse looping, não tenha, jamais um fim .

Raoni Carrara

Piratas!

 

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Não aceite menos do que merece! Fazer isso é se tornar barato, é permitir que barganhem seu valor! Para começar, sua vida é seu maior tesouro. Conheça bem a ilha que enterrara sua riqueza. Desenhe um mapa e confie na mão de um ou dois raros, que não estão interessados em te saquear como piratas, mas em cuidar de você caso você não possa cuidar de si mesmo! Nunca gostei de piratas, e nesses dias turbulentos, são eles que me batem a porta, com pernas de pau e tapa olhos! Sempre com riso fácil e promessas de novas fortunas! Recuse a oferta! Ofereça lhes Rum, mas cobre por eles, e cobre caro, caro o suficiente para nunca voltarem! Odeio interesseiros assim como odeio piratas!

Universo Feminino

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Depois de muito tempo você se permite ousar a vagar pela inquietude da alma feminina. Você ousa, tenta, reage e fica inquieto também! Você sai à procura de monstros e vilões e acha paraísos perdidos. E então você se da conta do tamanho exótico das flores, das formas inexploradas e das milhões de espécies que habitam esse vale cheio de cores, formatos, desejos, sonhos, imagens e sons que jamais escutou antes. É um universo fascinante onde o incauto viajante jamais encontra mapas para se orientar. Desconfiado você caminha até onde meninos jamais puderam chegar, e se vê abismado por reconhecer neste campo, suas próprias pegadas nos momentos em que foi Homem. Reconhece ali, seus medos, seus anseios e seus erros mais insensatos quando regressou como menino a simples vida masculina. Não quero ser injusto em classificar tal lugar como hostil, inóspito ou insólito, mas seria prudente afirmar aos aventureiros que ha sim perigos por aqui. Afinal, quem se atreve a viajar sem conhecer o dialeto local? Ou quem provoca a onça do lado de dentro da gaiola? Se aceita um conselho, seja homem para conseguir o visto, aceite a cultura local e entenda que você é um forasteiro, e que por mais forte que seja em sua terra natal, aqui se é apenas um homem correndo riscos de se apaixonar.
 Não se iluda achando não haver lugar aqui, para traquinagens. Seja traquinas, mas ofereça seu lado mais sacana, sempre ao lado dela, jamais contra. Quando se esta em terreno desconhecido e se é um forasteiro, o melhor a fazer é se juntar a comunidade local. Compre presentes, fale sobre coisas boas, aprenda a se comunicar usando sua linguagem. Ofereça lhe seu melhor e mais sincero sorriso. O universo feminino não é ingrato e tem uma forma muito especial de retribuir quando se sente amado. A quem lhes oferece algum alento ou sensação de segurança, pode segurar sua mão, e dar a certeza de que dias melhores virão nesse nosso frio universo masculino. O prêmio pode vir disfarçado de timidez, ou de uma fúria assim qualquer, de uma mulher em dia de sexo selvagem. Nunca se sabe, nunca se tem certeza, não ha padrões por aqui. Não espere nada em troca, apenas faça, siga os seus instintos e encontre na mulher a resposta que precisamos para os dias que não aparecem nas fotografias. Vagar por aqui, é nunca ter certeza do caminho, é irreal, surreal, caminhar por relógios imensos e desajustados, é incoerente e fascinante. Por aqui, hoje se vai ao céu, e amanhã ao inferno no primeiro tiro errado. E quem disse que reclamo? Mas se ainda assim, não puder permanecer muito tempo por aqui, não faça promessas que não pode cumprir. Afinal, cada coração partido só enxerga os próprios pedaços…
Antes de carimbar seu passaporte para outros lugares desconhecidos, não seja leviano. Não saia sem dar qualquer explicação, vá embora mas compreenda que não haverá respostas exatas por aqui, que jamais compreenderá o fascinante mundo feminino, é isso que aprendi até agora…Não ha vistos permanentes no complexo mundo perdido.
Se ha, nunca encontrei a embaixadora dona dos carimbos.
Raoni Carrara