Ando cansado

Não me leve a mal, me leve na sacanagem!

Não me leve a sério, me leve na brincadeira que a vida já é dura de mais.

Vamos falar sério também, mas só o necessário.

Esse discurso parece não ser meu, mas ando cansado!

O mundo anda muito caótico, é muito genocídio, tem guerra demais. Tem muito vilão, tem pouco herói. Tem vilão sério demais, e não é filme de terror. Tem avião caindo demais, tem tudo muito demais, a sopa ta salgada, o preço do tomate ta demais, ta tudo demais. Só que as pessoas de bem estão de menos,lendo o horror pelos jornais, talvez estejam tão cansadas como eu.

Lembro me da frase do Tchekhov:

“Na natureza, uma repugnante lagarta se transforma numa borboleta encantadora. Entre nós homens, acontece o oposto, encantadoras borboletas se transformam em repugnantes lagartas”

Desconfio que preciso de férias, não do trabalho, férias do mundo.

Mas onde esta o empregador que não entrega meu aviso de férias?

Ditadura

” All truth passes through three stages. First, it is ridiculed. Second, it is violently opposed. Third, it is accepted as being self – evident.”

Esta frase do Arthur Schopenhauer nunca foi tão real em tempos de falsa democracia, em tempos de teorias de conspiração, em tempos de ditadura escancarada, mas ainda em tempos de deboche, falta de senso crítico e visão global política. Ainda que esfreguem a verdade diante de nossos olhos, nos recusamos a acreditar nela pela violência que ela representa a nossa liberdade.

Como somos estúpidos, preferimos recusar aquilo que nos violenta, aceitar como uma enorme mentira ao invés de encarar a cruel verdade diante de nossos olhos.

É mais fácil negar a realidade em prol de uma falsa sensação de que esta tudo bem, a tirar o corpo da inércia e ir pra chuva fria que cai lá fora, na realidade dos fatos, do horror e da covardia que enfrentam todos aqueles que tentam lutar contra nosso regime político atual.

Sem mais por hoje! Raoni…

Pássaros

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É difícil não querer aprisionar tudo aquilo o que você gosta, e quando se perde alguma coisa que vai voando devagar, para longe, a vontade é de desenhar jaulas imaginarias para manter por perto tudo que você mais gosta e ama! O problema é que as jaulas e as prisões transformam pessoas em prisioneiras, coisas livres em correntes, e depois de certo tempo neste processo, começam a agir como prisioneiros e não mais com aquela doçura que tanto encantava. As coisas precisam ser livres, precisam ser soltas, as asas precisam bater livres, perto ou longe das nossas, mesmo quando as nossas próprias asas estão fechadas, fechadas na prisão que nós mesmos criamos um dia sem nem mesmo perceber. Somos todos parecidos aprisionados, somos todos parecidos voando, quando se vai contra a natureza de um pássaro, se ganha lamentos e não cantos, se ganha qualquer coisa que sequer tem comparação com o tamanho do que se perde. 

Meu bem

Meu bem, já não sei mais quanto tempo tem que nos conhecemos, mas sei que já faz um tempão! Não sei mais sua idade, seu endereço, seu estado civil ou mesmo qual bandeira defende!
Já não sei mais sobre você, mal posso lembrar o cheiro do seu cabelo, seu semblante expressivo de quem busca algo e não encontra ao fumar seu cigarro.
Já não sei tanto sobre você que esqueço o quanto esqueço tudo sobre você! Já não sei mais onde guarda seus recados, já não entendo mais seus anseios, suas vontades, seus amores…
Confesso! Ando esquecido… sou culpado mesmo!
A única coisa que nunca esqueci é de amar você, no mais puro egoísmo de quem ama e não cuida, ama e não busca, ama e não sente, mas ama! Sei lá, é esse negócio de amar e não saber o que fazer com o amor, é esse esquisito anseio de mover sem perder o juízo, é qualquer coisa que movimenta nossos corpos sem saber exatamente a razão.
Sei lá o que se passa, mas sei que passa! Sei lá o que se ama, mas sei que ama! Sei lá, só sei que te escrevo tudo isso para mostrar o quanto é confuso tudo isso que se sente por uma amiga tão querida. Escrevo buscando alforrias em meu nome ou uma indulgência cara para justificar novamente sei lá o que. Mas tento…
Nessa teia de motivos e desculpas, receios e culpas, desejar o melhor de mim, meu otimismo parece até sem sentido. Esse meu ”Sei lá como vejo a vida bela” , “meu seja feliz porque você merece”! Meu feliz aniversário sem saber exatamente o que isso significa pra você. Mas sei que significa! E significa tanto, que evito usar de um feliz aniversário comum, porque o comum vale para o ordinário, você alcança os patamares extraordinários da existência, só talvez não se de conta disso para não fugir do clichê de nossas vidas.
Eu não sei o que tudo isso quer dizer, mas digo! Digo pedindo perdão a palavra por dizer, e educadamente peço que desdiga por assim dizer o que digo, pois tudo o que é dito sequer chega perto do que realmente quero dizer.

Arma Letal

veneno

Nenhuma arma é mais letal, mais perigosa! Sou certamente meu maior veneno quando alcanço o ápice de minha energia, mas sou também o remédio de todas as minhas inquietações. Sou a reprovação em momentos de razão, e o deboche nos momentos de euforia. Sou pausa e movimento, em conflito com minhas verdades e meus lampejos de fuga. Sou hiperativo, e esse excesso de energia explode em cacos de mim.
O coração do mundo bate devagar, sua melodia é afinada, seu compasso é regular. Meu coração não sabe bater, gosta de descompassar, acelerar o tempo da chegada num impulso irregular. Aquele que precisa do movimento desaprende a ouvir o mundo, desaprende a respeitar o próprio corpo, desaprende a se apaixonar. A paixão é o mundo, a paixão é a fuga, a paixão parece nunca se aquietar.

Nenhuma arma é mais letal, mais perigosa que sua própria vontade de se movimentar. Na lista dos 10 maiores vilões, você figura nas 9 primeiras posições. Todos somos bandidos de nossa segurança pessoal, e ninguem será mais capaz de te machucar se não você mesmo! Não acredito ser eficaz essa coisa de buscar culpados pelas coisas que nos machucam. Lembre se, a cada 10, 9 é você! Aumentar o tamanho dos monstros de fora quando o monstro maior mora dentro de nós! Talvez eu até esteja equivocado, mas o que me poe medo não são as pessoas, eu tenho medo é de mim mesmo!
Raoni Carrara

Sorvete de Jiló com calda de cereja

A Ignorância é um dom. Sempre acreditei nisso, embora jamais tenha gostado da acidez que provoca ao meu espírito inquieto.

Leva algum tempo até percebermos que o sorveteiro da esquina pode ser mais feliz que você, envolvido em teias complexas e missões ultra secretas.

E a simplicidade do vendedor de churros pode ser mais elegante que seus ternos de costura italiana. Os olhos do pipoqueiro podem ser mais belos que seu moderno Ray Ban.

E você ?

Nunca se apaixonou pela simplicidade de uma velhinha, de ternos olhos azuis e doces histórias? Você é mesmo tão moderno assim que nem nota tanta elegância e simplicidade? Parece uma sabedoria tranquilizante, alguma dessas contadoras de histórias e fazedoras de doces incríveis. Aqueles doces que te levariam ao céu na primeira mordida, e no inferno ao se pesar na balança. Pois é!

Muitas vezes estamos cercados de conceitos e preconceitos, em choque com a verdade, protestando de cara feia aos absurdos de nossas vidas. Enviando abaixo assinados contra o “Non sense” de nosso cotidiano. Sabe aquela impressão de que nada nos interessa? De que tudo é previsível e irremediavelmente entediante? Tanta informação, tanta busca do saber, e tanto ceticismo…

Estaremos correndo no sentido contrário da corrida? Porque não vejo aplausos ou pódios de chegada? Somos chatos! Aprendemos, erramos, evoluímos e perdemos a capacidade de sonhar, brincar se iludir. Construímos cadeias de armadilhas, nos sabotamos em prol de algum senso de evolução inconsciente.

Deve me achar louco ne?! Talvez! Mas e você que se recusa a usar seu pensamento animal? Se recusa a ser irracional as vezes com medo de perder o que nem tem?! Afinal, medo do que? De uma falsa impressão de segurança racional? De uma compulsiva caminhada ao sórdido? Ao insólito ? Ao burguês? É Tétrico! É desagradável, é de um puta mau gosto. Vivemos pedindo sorvete de jiló com calda de cereja. Naturalmente, tem cara de milkshake de morango do Bob’s. Mas deve ser jiló…ah deve ser.

Reflexivo, intrigado, louco, talvez com certa necessidade de fuga da realidade. Talvez imaturo, carregado de um sentimento lúdico exagerado. Talvez, tantos “talvez”. Choque!

“Rather than love, than money, than faith, than fame, than fairness… give me truth.”

As vezes precisamos encontrar novamente nossa condição de aprendizes da vida para cair nossos conceitos quadrados. Ser um forasteiro novamente e se aventurar na terra das surpresas e emoções. Calçar as sandálias da humildade e aprender novamente a pescar, a atirar pedras no lago. Nós, detentores de egos inflados e mundos geometricamente perfeitos, somos entediantes. Inadequados, antiquados e antipáticos. Aaaaaah moço que navega no rio, pode me ensinar a ser como você ? Simples como a correnteza mansa que deságua no mar. Aaah moço que mora na montanha e cultiva feijões gigantes, ensina me a fazer a leitura das nuvens mas não permita me aprender demais. Quero a ignorância. Quero o mistério disso tudo e fugir da inevitável antipatia das cidades grandes. Tenho sonhos grandes demais para permitir – me ser quem não quero ser. Sem meus sonhos, não sou nada.

 

Evolução

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Em qual direção marchamos nessa escala evolutiva? Pros lados? Pra trás? Pra frente não deve ser! Cada pedaço do passado representa qualidade infinitamente superior a qualquer retrato do presente.

Evoluímos tecnologicamente, não há o que argumentar. Mas qual o custo? A regressão das nossas virtudes mais básicas?  Então é assim que o mundo deve funcionar? Voltar a mostrar os dentes cada vez que somos ameaçados?

Então é isso?! Uma via de mão dupla? De um lado da via o progresso tecnológico, na contramão do futuro a imbecilização de nossa capacidade de pensar, de agir com bom senso, de deixar viver sem ter a capacidade de antes matar.

Então somos assim? De um lado seguramos a mão das oportunidades, do outro atiramos o próximo no barranco da competição. Se antes pudéssemos empurrar para chegar à frente, quantos não o fariam?

Se pudéssemos frear antes de agir, pensar antes de atirar, se pudéssemos deixar de morder quando a presa parece fácil, talvez eu acreditasse nessa tal evolução.

Enquanto nos comportarmos como animais, visualizarei bestas de smartphone e macacos ao som de Lepo Lepo.  É nesse sentido o caminho da evolução? É pra abandonar meus vinis do Pink Floyd então? É então pra abandonar meus heróis dos livros para seguir os heróis de chuteiras? É então para abandonar meus princípios em troca de proteção?

Qual esperança terei na raça humana se ao proteger meu rabo de qualquer besta humana, me vem outra pela jugular? Se me sinto desprotegido nas mãos da justiça e nas mãos do povo? A qual julgamento devo comparecer quando me sinto cada vez mais fora dessa realidade que me assombra?

Matamos ou morremos, ignorando nossa capacidade de raciocinar. Ou seja, somos um verdadeiro milagre e ignoramos essa dádiva. Trocamos a virtude da inteligência para sermos pequenas bestas individuais. Ao passo que deveríamos ser juntos a maior representação do bem, da inteligência, da nossa capacidade de criar e evoluir.  Ainda assim, inventamos músicas de duas palavras repetidas, “criamos” nossos monstros com o voto popular, expurgamos nossos demônios debaixo dos panos,  e progredimos as custas de nossa única casa, depredando ela como se pudéssemos habitar outro planeta.

Afinal, que diabos somos? Representamos tudo o que mais repudio, somos a inexorável destruição de tudo o que amamos e isso impede minha capacidade de sonhar, de querer filhos, de marchar nessa direção cada vez mais contrária a tudo o que penso e acredito.

Viva e deixe Viver

Sem título

O mundo se desmonta em mil pedaços, tudo porque ele vive e quer viver, mas uma herança bastarda o move de ponta a ponta na esperança inútil de encontrar um norte. Enquanto isso, animal estranho vai se esgueirando pelas brechas da normalidade.
A placa dizia: Só para os Raros
Ela por sua vez, protegida em sua redoma de vidro recua perante o avanço desajeitado. Ela recua e talvez não entenda exatamente o que faz, o que quer fazer, e talvez me entenda menos do que pensa.
Ter um legado, uma angustia latente impulsora, me fez perder um novo mundo uma vez, me fara perder outros novos.
Ele costumava dizer: Viva e deixe viver…mas tem dúvidas se no final é ele quem vai morder a isca do anzol.
Ela costumava dizer: Você é um problema
Talvez ele seja isso mesmo, na tentativa vazia de encontrar um novo lar, alguma estação onde possa parar e finalmente me libertar da angústia de ser inquieto, lúdico e errado.
Ele costumava chamar ela de medrosa, mas ele também tinha medo. Ele só não sabia a diferença entre língua e linguagem, e talvez nunca saiba.
Ela deu seu último beijo, e ele espera reencontrar, na ansia por viver, e por deixar viver, aquele beijo.
Ela é especial, ele só não soube como dizer…
Ele entendeu o abandono, sem subjetivismo, mas lamenta, lamenta muito porque ela viveu, mas não deixou viver.

Rádio Analógico

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Eu apenas sinto que perdi o trem na estação. Todos partiram e eu fiquei neste mundo analógico enquanto todos andam por aí em seus mundos digitais, cheio de cordas tensas e regras de conduta. Qual estação se desce para o mundo das pessoas desajustadas? É lá que devia estar, pessoas devem ser felizes por lá, e tenho certeza que nenhuma criança passa fome. Nenhum idoso é desrespeitado e ninguém banaliza o amor. É lá que quero estar, essa estação aqui só toca as mesmas músicas, o rádio deve tá com o botão do sintonizador quebrado…_não ria de mim, meu rádio é analógico

Diretor do meu próprio filme

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O mundo anda cheio de oportunidades para todos e o que eu pareço perder, se assemelha ao que todos parecem ganhar. Sei que no final, cada um é protagonista do próprio drama, mas se estou exagerando nos fatos, é porque não consigo conviver com a angústia dos sentimentos sem nome, que são covardes e não se apresentam com seus cartões de visita. Não sei o que sinto, e receio não sentir absolutamente nada, pois o estado de letargia parece me assombrar. É como viver anestesiado, sem sentir dor alguma, e isso incomoda! Não quero ser a rainha do drama, nem o Rei das minhas convicções, mas desconfio que estou perdido.
Se por um lado, a vida profissional parece fluir bem, pelo outro lado sou o protagonista, diretor, coadjuvante de minha própria história pessoal. E estou preso nela, como se não pudesse cancelar o filme e voltar para casa, em busca de algum conforto. Quem escreveu o roteiro fui eu, quem contratou os personagens também, mas quero mudar, reinventar, porque não suporto olhar para a lista de pessoas que demiti de minha vida. Eu não quero assistir esse filme, e gostaria que ninguém visse.
No mundo da fotografia digital, me vejo perseguindo câmaras escuras em busca de negativos do passado. O que pretendo buscar no passado? “O dedo do destino escreve, e tendo escrito segue adiante. Nem toda sua devoção e engenho farão com que volte para cancelar meia linha sequer, nem todas as suas lágrimas apagarão uma só palavra.”

Sinceramente, não gosto de como me sinto e embora esteja me contradizendo, não quero absolutamente descobrir o nome para tudo isso. Na verdade, eu não sei o que quero, e receio que esse looping, não tenha, jamais um fim .

Raoni Carrara