Sorvete de Jiló com calda de cereja

A Ignorância é um dom. Sempre acreditei nisso, embora jamais tenha gostado da acidez que provoca ao meu espírito inquieto.

Leva algum tempo até percebermos que o sorveteiro da esquina pode ser mais feliz que você, envolvido em teias complexas e missões ultra secretas.

E a simplicidade do vendedor de churros pode ser mais elegante que seus ternos de costura italiana. Os olhos do pipoqueiro podem ser mais belos que seu moderno Ray Ban.

E você ?

Nunca se apaixonou pela simplicidade de uma velhinha, de ternos olhos azuis e doces histórias? Você é mesmo tão moderno assim que nem nota tanta elegância e simplicidade? Parece uma sabedoria tranquilizante, alguma dessas contadoras de histórias e fazedoras de doces incríveis. Aqueles doces que te levariam ao céu na primeira mordida, e no inferno ao se pesar na balança. Pois é!

Muitas vezes estamos cercados de conceitos e preconceitos, em choque com a verdade, protestando de cara feia aos absurdos de nossas vidas. Enviando abaixo assinados contra o “Non sense” de nosso cotidiano. Sabe aquela impressão de que nada nos interessa? De que tudo é previsível e irremediavelmente entediante? Tanta informação, tanta busca do saber, e tanto ceticismo…

Estaremos correndo no sentido contrário da corrida? Porque não vejo aplausos ou pódios de chegada? Somos chatos! Aprendemos, erramos, evoluímos e perdemos a capacidade de sonhar, brincar se iludir. Construímos cadeias de armadilhas, nos sabotamos em prol de algum senso de evolução inconsciente.

Deve me achar louco ne?! Talvez! Mas e você que se recusa a usar seu pensamento animal? Se recusa a ser irracional as vezes com medo de perder o que nem tem?! Afinal, medo do que? De uma falsa impressão de segurança racional? De uma compulsiva caminhada ao sórdido? Ao insólito ? Ao burguês? É Tétrico! É desagradável, é de um puta mau gosto. Vivemos pedindo sorvete de jiló com calda de cereja. Naturalmente, tem cara de milkshake de morango do Bob’s. Mas deve ser jiló…ah deve ser.

Reflexivo, intrigado, louco, talvez com certa necessidade de fuga da realidade. Talvez imaturo, carregado de um sentimento lúdico exagerado. Talvez, tantos “talvez”. Choque!

“Rather than love, than money, than faith, than fame, than fairness… give me truth.”

As vezes precisamos encontrar novamente nossa condição de aprendizes da vida para cair nossos conceitos quadrados. Ser um forasteiro novamente e se aventurar na terra das surpresas e emoções. Calçar as sandálias da humildade e aprender novamente a pescar, a atirar pedras no lago. Nós, detentores de egos inflados e mundos geometricamente perfeitos, somos entediantes. Inadequados, antiquados e antipáticos. Aaaaaah moço que navega no rio, pode me ensinar a ser como você ? Simples como a correnteza mansa que deságua no mar. Aaah moço que mora na montanha e cultiva feijões gigantes, ensina me a fazer a leitura das nuvens mas não permita me aprender demais. Quero a ignorância. Quero o mistério disso tudo e fugir da inevitável antipatia das cidades grandes. Tenho sonhos grandes demais para permitir – me ser quem não quero ser. Sem meus sonhos, não sou nada.

 

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